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segunda-feira, 23 de abril de 2012

JOGO DE TACOS, QUE VIROU DE LATAS

Uma das brincadeiras que mais gostávamos era o "jogo de tacos", que consistia em colocar duas "casinhas" dentro de dois círculos, sendo que cada círculo ficava distante um do outro aproximadamente 30 metros. O equipamento do jogo era uma bolinha e dois tacos, dois pares de jogadores dois de cada lado, um par ficava com o taco e ou outro par com a bolinha.

O jogador com a bolinha tentava acertar a casinha dentro do círculo, sendo que se acertasse a casinha derrubando-a teria o direito de receber os tacos.

Os jogadores de posse dos tacos, quando a bolinha era arremessada em direção à casinha, este deveria acertar a bolinha jogando-a o mais longe possível, e quando isto era feito, corriam um em direção ao outro batendo o taco um no outro, contando os pontos cada vez que conseguiam correr de um círculo para o outro, tomando o cuidado de não ser acertado com a bolinha no corpo ou a casinha derrubada quando eles estivessem fora dos círculos.

Ocorre que nem sempre tínhamos a bolinha e para isto, substituíamos a bolinha por lata de óleo de cozinha vazia e dávamos o nome de "jogo de latas".

Cada vez que atirávamos a lata, o taco acertava e a lata amassada era arremessada longe, fazendo uma grande barulheira.

Quase todos os dias, eu, o Milton, o Lucélio e o Cláudio jogávamos "lata" no meio da rua na Vila dos Sargentos, em Cumbica e , lógico, criávamos muitos problemas, que ora a lata caía no jardim de alguma casa, ora em cima de algum carro ou em cima da cabeça de alguém que passava distraidamente.

Rua onde jogávamos "lata" em Cumbica

Um dia, a lata caiu em cima do telhado de uma das casas e subimos no telhado pelos tubos da varanda da casa e no ímpeto de pegar logo a lata para não tomar muitos pontos, quebramos algumas telhas deixando o morador da casa muito bravo e para resolver o problema, conseguímos algumas telhas em algum monte pela Vila e as substituímos.

Tubos das varandas em que subíamos ao telhado
que em nossa época era de telhas tipo francesas.

Devido a isto, cada dia o jogo era em um local da rua.

O difícil foi o dia em que a lata entrou pela janela da frente de uma casa e sem titubear, pulei a janela para dentro da casa para pegar a lata e na saída, a dona da casa saiu correndo atrás de mim com uma vassoura e destruiu nossas casinhas do jogo e apagou os círculos.

Reclamação feita e uma semana de castigo.

Sem problemas... que tal fazer "estilingue" para jogar mamonas nas roupas do varal dela que ficariam marcadas de bolotas verdes?!


Ideia não aprovada, pois poderia dar um castigo de trinta dias!!!




terça-feira, 17 de abril de 2012

LUZ NEGRA E ESTROBOSCÓPICA, O MUNDO FINALMENTE ACABOU!

Um dia, naquele ano de 1968, a turma reunida, como sempre, na esquina em frente a casa do Sgto Furuno, com papos alegres quando a Dona Assum lá de frente da casa dela gritou:
--- Então pessoal, semana que vem tem feriado e poderíamos fazer um bailão aqui em casa pra acabar com o mundo mesmo desta vez!!!


Não precisou falar duas vezes e já começamos a organizar o baile. O conjunto (banda) seria o nosso THE HARDS, O local, a sala da casa de Dona Assum, os "comes e bebes", cada um traria de casa os salgados, doces e bebidas e nisto, o Sheik veio com uma novidade, iria trazer e montar na sala uma lâmpada de "luz negra e estroboscópica.

Luz negra??? Estroboscópica?? que raio de luz é esta, era a primeira vez que eu ouvia falar disto??


Tudo estava saindo conforme o combinado e no meio da semana eu perguntei ao Ricardo o que era esta luz negra e ele disse que iria saber e me informar. Conforme prometido, o Ricardo veio no dia seguinte com um sorriso bem matreiro e com aquele sotaque mineiro, com os olhos arregalados, disse:
--- Uai sô, com esta danada da luz negra todo mundo se veste de branco e se as meninas colocarem calcinhas de outra cor em baixo do branco, a gente vê tudinho !!
--- Vixe !!, também temos que usar cuecas brancas pra não aparecerem!!
E disparamos a gargalhar.

--- E a lâmpada estroboscópica??
--- Uai...ela pisca muito rápido e a gente parece que fica tremendo!


Com estas novidades, todos os meninos e as meninas começaram a se preparar com roupas brancas e a curiosidade imperava sobre todos.

Chegada tão esperada noite, o pessoal foi chegando, e na verdade, mais parecia um terreiro de macumba com todo aquele pessoal de branco e o falatório cada vez aumentando mais, gritaria, algazarra, risadas e logo a bebida da moda já estava na mão de todos, a Cuba Libre, coca cola com rum, bastante gelo e uma rodela de limão.
Tudo pronto, o THE HARDS a postos, a luz apagou, acenderam a luz negra e a estroboscópica e começou:


Um verdadeiro show, todos maravilhados com o resultado e, claro, o MUNDO ACABOU!!!

clique e cante !



quinta-feira, 12 de abril de 2012

O GRANDE IMÃ

1970
... estava chegando o tempo de ir embora para sempre, do dia-a-dia de Cumbica, dos sons amigos, do cheiro da mata, da dama da noite, da represinha, do cassino, do cinema, das quadras de futsal. Com 17 anos fiz o alistamento militar em Cumbica, me apresentei, fiz todos exames médicos, doei sangue e fui dispensado por deficiência auditiva leve.

Lá da Vila dos Sargentos, eu via os prédios mais altos do centro da cidade de São Paulo e tentava imaginar o futuro, minha formação profissional, sair do mundo de até então e penetrar naquele burburinho da cidade.

Olhar para as casas, todas iguais já davam saudades e relembrar todos os dias passados, os amigos, os meus cachorros Dique e a Pretinha, faziam o coração disparar, mas o futuro como um grande ímã me impulsionava para seguir meu caminho e alguns de meus amigos já haviam sido atraídos pelo grande imã de seguir em frente para a vida.


O Milton e o Flávio Almada, já estavam fazendo faculdade de Engenharia Mecânica, o Beco já havia entrado na Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica,

O Beco com a farda da EPCAR e família

... o Celso Ávila para Faculdade de Medicina de Santos, o Sílvio para Matemática e nós, mais novos, já estávamos no Colegial e pensando em cursinho para exames vestibulares que logo chegariam também.

Num fim de semana, eu e meu pai fomos até Guarulhos, logo na entrada pela Via Dutra, no bairro Jardim Santa Francisca, onde estavam construindo várias casas e na Rua Arthur Bernardes, no número 110, escolhemos a nossa futura casa que seria entregue em Novembro de 1970 e neste mês mudamos para nossa nova casa.

O dia da mudança, todos os móveis colocados no caminhão de mudanças, fechamos a porta de nossa casa número 222 pela última vez e tudo virou passado, um feliz passado, uma perfeita preparação para a vida.

casa número 222

Com o tempo, todos amigos também mudaram de Cumbica, o Ricardo, Alexandre, Cristina, Denise e Fábio, filhos do SO Alberto e Dona Eneida ...

Casa do SO Alberto

... o Cláudio, Lucélio e Clarice, filhos do Sgto Garcia e Dona Letícia, ...
casa do Sgto Garcia

...  o Luiz Wade e a Wendie, filhos do SO Piccinini, o Sílvio e a Sônia, filhos do SO Correa ...

à esquerda, casa do SO Piccinini e à direita do SO Correa

... e de tantos amigos que permaneceram em minha memória.

Nada escapa do grande imã da vida que nos empurra para frente, para o futuro, mas Cumbica, de forma tão gentil e acolhedora, permanece igual, com as mesma casas, matas e odores mesmo após 42 anos de nossa despedida:

a quadra do Clube dos sargentos
a piscina do mesmo Clube
a quadra de vôlei e festas juninas
a esquina onde " o mundo acabava"
o Cassino dos Sargentos
a quadra do Cassino dos Sargentos
a Capelinha
o Rancho e reembolsável
o hangar duplo
o Cassino dos Oficiais
a represinha
a lagoa
o prédio do Comando
o cinema
o prédio da Infantaria
o rancho dos Oficiais
as placas na frente das casas
o Portão da Guarda
a estação do trem
O Giba

Meninos de Cumbica

... e os meninos e meninas de Cumbica, ainda hoje, tão alegres e abençoados pelo nosso principal Menino de Cumbica:

                                              

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Outono em Cumbica

E, naquela tarde ensolarada de Cumbica, lá na Vila dos Sargentos, nossa turma sentada num banco em frente a casa de Dona Assum, falando sobre diversos assuntos e como era época de outono com muito vento e a toda hora se formavam grandes redemoinhos, levantando mato e pó para o alto.

redemoinho típico de outono

O João falava que se pularmos dentro do redemoinho, iríamos ver o saci perere também pulando.

saci perere

Todos começamos a rir da história do João e neste momento, com o vento, formou-se um redemoinho em frente da gente na rua e todos pulamos dentro dele usando um só pé,  numa grande algazarra, quando de repente surge gritando ao nosso lado a esposa do Sargento Moura dizendo que sua Arara com o vendaval saiu voando e pediu que fôssemos atrás dela pelo mato em frente, lá após a Av 3 e de onde estávamos, vimos a arara voando.


Sem pestanejar, saímos todos correndo atrás da arara e penetramos no mato olhando para as árvores tentando visualizar a arara fujona.

Passados alguns momentos, o João grita << lá está a arara, em cima da árvore >>


Falando baixo para não espantar a arara, bolamos um plano onde somente dois subiriam na árvore, ficando um falando com a arara e outro ia por trás. Plano aceito, o João falou << vamos >>.

Todos ao mesmo tempo começamos a subir na árvore, pois no plano, esquecemos de escolher quem subiria e como ninguém queria saber de ficar no chão, fomos subindo...subindo...devagar...em silêncio e a arara só olhando para nós e ela gritava:
<< araraaaa...araraaaa..>>

Naquela subida, todos se dirigiam para a arara no mesmo galho e com o peso de todos, o galho começou a vergar... vergar mais... e mais... e a arara berrando:
<< araraaa...araraaaa...>>

De repente, um estalo e despencamos lá de cima, todos ao mesmo tempo, junto com o galho da árvore, rolando pelo chão e a arara voando, desceu bem em cima de minhas mãos e a segurei.

Um mancando, outro aranhado, outro com hematomas roxos, seguimos para a vila com a arara em cima do ombro do João batendo as asas e gritando: << araraaa.... araraaaa...>>.

Quando chegamos, entregamos a arara para a esposa do Sargento Moura e ela perguntou o que havia ocorrido com a gente e explicamos o acidente e ela disse:
<< Vocês nem esperaram eu explicar como chamar a arara e saíram correndo que nem doidos. Era só gritar "araraaa..araraaa" que ela desce pra vocês.>>

O João disse: <<Agora é tarde, já estamos arrebentados, deve ter sido culpa do saci perere quando pulamos dentro do redemoinho dele e ele aprontou com a gente>>

Caímos na gargalhada e a Dona da arara não entendeu nada...

Mas a arara entendeu sim e gritou: << araraaaa...araraaa...>>