Ocorre que dentro da Base não havia um clube, portanto não havia piscina e, quando permitido pelo comando, íamos nadar na lagoa que fica bem no início da ladeira com destino às vilas dos oficiais e sargentos, mas normalmente nadar nesta lagoa era proibido por não haver disponibilidade de salva-vida para tomar conta da meninada.
Lagoa da BASP
Para resolvermos este problema, ou nadávamos nas águas do Rio Baquirivu nas cercanias da BASP ou na represinha, um local escondido nas matas bem próximo na vila dos oficiais.
Represinha
Acontece que nossos pais ficavam temerosos que nós fôssemos nadar na represinha e nos proibiram.
Mas jamais poderíamos deixar nosso recanto de lado e sempre que podíamos, estávamos na represinha na maior algazarra.
Um dia, o Cláudio disse que o pai dele ameaçou de dar-lhe um belo corretivo se voltasse a nadar na represinha e devido a isso ia tentar descobrir uma forma de continuar indo.
Cláudio, do meio
Não demorou muito e o Cláudio já tinha uma solução: levar uma cueca sobressalente para evitar de retornar com a calça molhada, pois todos nadávamos de cuecas e quando vestíamos calção ou bermuda por cima, o molhado na roupa logo nos acusava do "delito" e, para não precisar toda hora levar uma cueca, ele deixava sempre a cueca molhada escondida em baixo de uma árvore Pitangueira.
E um dia, o Cláudio disse que o pai dele havia sido transferido de Cumbica para o Rio de Janeiro e em pouco tempo se mudaram. E foi triste para todos nós ver aquela casa vazia.
Casa do Cláudio
O tempo passou, 43 anos, e o Cláudio não se esquece da Represinha e nem da cueca que deixou em baixo da raiz da Pitangueira e num pedido solene disse:
Cláudio Garcia: Edson, se você for no sábado lá em Cumbica, aproveite para dar uma passadinha na nossa represinha, me fazendo um favor...dá uma olhada lá em baixo de uma pitangueira, tem um pé de gabiroba que eu usava como esconderijo...pra ver se você acha a minha cueca lá...tem mais de 40 anos que a escondi lá... Será que está lá ainda? Abração!
Não era possível negar um pedido deste, de sonho de criança que jamais se acaba, e fui.
Entrando na mata, localizei a represinha que apesar da mata fechada, demonstrando que há muitos anos aquele recanto não era frequentado, encontrei a Pitangueira e depois de muito cavocar aquelas folhas que se acumulam por anos ao pé da árvore, uma imagem do túnel do tempo...
... lá estava pacientemente a cueca do Cláudio aguardando por muitos anos o retorno daquela criança feliz para mais uma vez mergulhar nas águas de nossa represinha