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sexta-feira, 26 de abril de 2013

ALISTAMENTO MILITAR

Vixe !!! completei 17 anos, 1969, não tinha como escapar...

Meu pai foi categórico:
SO Adalberto

< NÃO ESQUEÇA DE FAZER O ALISTAMENTO PARA O SERVIÇO MILITAR. VÁ AMANHÃ AO LADO DO PORTÃO DA GUARDA E SE ALISTE.>


Local do alistamento..na porta com o toldo azul à direita

Ordem é ordem, mesmo ainda eu não ser recruta e lá fui no dia seguinte bem cedo para me alistar, levando minha carteira de identidade e duas fotos 3x4  preto e branco.

O Sargento de dia era nada menos que nosso amigo de futsal, o Sgto Diógenes que em gargalhadas logo foi dizendo:

< kkkk  AGORA VOCÊ ESTÁ FERRADO. VAI AMARGAR AS PORRADAS DADAS NO FUTEBOL DE SALÃO. EU MESMO VOU TE SEGUIR kkkkkkk >

Sgto Diógenes 4º em pé...eu, último em pé à direita

Num sorriso bem azedo, quase pedindo socorro, fiz o alistamento e o próprio Sgto Diógenes fez questão de entregar toda a papelada para eu preencher, conferir e me entregar o certificado de alistamento e disse também gargalhando:

< VAMOS JOGAR FUTEBOL DE SALÃO HOJE??? >

Respondi bem baixinho: < nem morto >

E ele quase engasgou de tanto rir.

Voltei para a Vila dos Sargentos desolado, perdido, querendo fugir do Brasil e tinha que me apresentar no mesmo local em março de 1970.

Contei ao meu pai e ele também quase chorou de tanto rir e disse:
< É ISTO MESMO. AGORA VOCÊ TEM QUE OBEDECER SEM TORCER O NARIZ, VOU PARABENIZAR O DIÓGENES>

Nisto eu pensei..." tô fu...futebol nem pensar, porque se eu for jogar, eu arrebento ele "

Ficou só no pensamento, porque em vários jogos nada aconteceu e continuei jogando firme, ou seja, ou o Diógenes passava por mim, ou a bola. Jamais os dois.

O tempo passou e chegou o dia de me apresentar.

Muitos alistados todos juntos na frente do portão dentro da BASP.

Que azar!!! Lá estava outra vez o Diógenes como Sargento de Dia e ele olhou pra mim e num sorriso maligno gritou:
< TODOS JUNTOS, EM FORMAÇÃO DE QUATRO FILAS, AGORA!!!! JÁ!!! VAMOS!!! NÃO TEMOS O DIA INTEIRO SÓ PRA JUNTAR MARMANJOS !!! VAMOS !!! JÁ!! QUEREM QUE EU CHAME A MAMÃE PRA VOCÊS ENTENDEREM?? VAMOS??>>

Fizemos a formação na medida do possível e começamos a andar em direção ao Hospital da Base para exames médico. Eu devia estar branco transparente. Quase não respirava. E seguia na minha fila escutando os passos...e o Sgto Diógenes lá na frente gritava:
< VAMOS MAIS RÁPIDO!! BANDO DE BABACAS MOLENGAS !! AGORA ACABOU A MOLEZA...AGORA VOCÊS VÃO APRENDER A SER HOMENS...E NÃO QUERO OUVIR UM PIO SEQUER...TODOS CALADOS !!!>


Avenida em frente ao Portão da Guarda em direção ao Hospital

Passamos em frente da Escola Preparatória de Oficiais da Aeronáutica (EAOAR) onde estava a minha biblioteca...

EAOAR

... mais a frente, passamos pelo Cassino dos Sub Oficiais e Sargentos e vi a nossa quadra de futsal maravilhosa e lembrei das pancadas que dei no Sgto Diógenes e disse para mim mesmo < EU DEVIA É TER QUEBRADO ELE>.... e logo subimos em direção ao Hospital.


Cassino dos SO e Sargentos e a quadra de futsal

Lá chegando, paramos numa porta lateral do Hospital e lá estava estacionado um ônibus com o logotipo ao lado " COLSAN" (coleta de sangue).



Pensei...< pronto...chegamos ao matadouro, vai jorrar sangue pra todo lado>

O Sgto Diógenes gritou:
<SEPAREM-SE EM GRUPO DE DEZ E VÃO ENTRANDO. LÁ DENTRO, TIREM TODA A ROUPA...EU DISSE TODA...QUEM FICAR DE CUECA E ARRANCO ELA PELA CABEÇA...JÁ...VAMOS!!! ENTRANDO !!! VÃO TIRANDO A ROUPA.

Entrei e fui logo tirando minha roupa e ficamos um ao lado do outro esperando o médico que ao chegar com um enfermeiro de lado foi dizendo < DÊEM O NOME UM POR VEZ PARA O ENFERMEIRO PEGAR A FICHA> e assim o fizemos sem sair da formação.

Aí o médico disse:
<TODOS ASSOPREM COM FORÇA NO PUNHO E SEGUREM>
O enfermeiro passou um por um  verificando se havia alguma anormalidade.

<AGORA APERTEM O PÊNIS PRO ENFERMEIRO VER>
Que vergonha !!!

Depois, um a um foi auscultado os pulmões e coração, além de verificar estado geral do corpo quanto a deformidades, cicatrizes e pé (pé chato é dispensado).

Após esta aprovação...o Sgto Diógenes gritou:
< UM POR UM, EM FILA INDIANA PARA O ÔNIBUS DOAR SANGUE>

Pra que!!...alguns já desmaiaram antes de entrar no ônibus.
Eu segui, gelado, com os olhos arregalados, andando que nem um zumbi, deitei na maca e vi aquela maldita agulha perfurando meu braço e tirando até a última gota de sangue existente em meu corpo.

Levantei da maca e a sensação foi de que eu havia tomado um litro de pinga, pois estava com uma "tonteira" violenta. Fui levado pra fora do ônibus e me deram um copo de laranjada super doce.

Em seguida o Sgto Diógenes me chamou e disse:
< TUDO BEM??? FICA TRANQUILO QUE AINDA NEM COMEÇOU A FESTA. VÁ LÁ PARA DENTRO FALAR COM O MÉDICO>

Fui ao médico tremendo que nem vara verde e ele me disse:
< VÁ EMBORA QUE VOCÊ ESTÁ DISPENSADO; O DIÓGENES JÁ ME AVISOU>

Fui saindo bem devagar do Hospital e lá fora o Diógenes me chamou gargalhando me deu um abraço e disse:
< FALA PRO TEU PAI QUE FIZ TUDO DIREITINHO... A GENTE SE ENCONTRA NA QUADRA DE FUTSAL, TCHAU AMIGO>

Caramba...estava tudo ajeitado para eu sofrer...uma bela pegadinha...mas saí de lá o mais rápido possível e perto da Vila, saí correndo...voando...e entrei em casa aos berros na maior alegria, pois estava livre...dispensado do serviço militar obrigatório.

Minha casa, nr 222

Quando meu pai chegou á tarde...me deu um abraço e disse:
<AGORA, EDSON...DÁ TUDO DE SI NOS ESTUDOS>

E assim foi.




sexta-feira, 5 de abril de 2013

O SEGREDO DA REPRESINHA


E, com o outono, sabíamos que era época de frutas e nesta época ficávamos de "olho" nas árvores de abacates, pêssegos, caquis, nos pés de maracujás, manga do mato, goiabas e muitas outras muito comuns em Cumbica.

abacateiros atrás das casas


As árvores da Vila dos Sargentos já estavam muito bem vigiadas e para conseguir alguma fruta, somente com artimanhas ou truques, por exemplo chutando a bola para o quintal visado e ao pegar a bola, surrupiar algum pêssego e mesmo assim ter que fugir correndo de algum "cabo de vassoura " que logo vinha acudir a pessegueira.

árvores frutíferas abaixo da quadra de volei

Mas a melhor maneira mesmo era irmos todos ao local de tratamento de água da BASP, com aquelas enormes piscinas fedorentas, porém com muitas árvores de frutas em volta.

Lá, poderíamos sem qualquer susto subir nas goiabeiras e degustar aquelas suculentas goiabas vermelhas e após, carregar nossas camisas com limões, retirados de muitos limoeiros do local.

Cumbica 1958 

No caminho de volta, pela Ladeira do Sacy, toda a molecada junto descascando limões e chupando. O azedo do limão aos pouco iam se transformando em doce, um milagre, que na verdade era a saliva que ficava com a sensação adocicada.

A chegar em casa, carregado de limões que logo iriam virar limonadas, minha mãe ao questionar de onde vinham os limões, era difícil falar por causa do azedo que contraía nosso rosto e boca.

Descarregado dos limões, já nos agrupávamos para tentar os abacateiros da Vila, que eram mais difícil de colher devido a altura destes, mas o João Alves era bem treinado em subir em árvores e fazia a coleta jogando os abacates lá de cima.

Também nesta época do ano, a fauna de Cumbica estava em plena atividade e exuberante, pois os animais nascidos no verão já estavam aprendendo ou mesmo em plena caça de sobrevivência e nisto era comum deparamos com as cobras coral e cascavel tentando caçar os passarinhos, sapos ou preás; os gambás buscando frutas nas árvores, gaviões atacando em pleno voo os canários da terra distraídos; grandes lagartos correndo atrás das cobras; pássaros de diversas cores atacando os insetos voadores e assim a vida seguia com toda a sua magia de equilíbrio.

Com o Sol ainda forte, esquentando aquelas tardes de Cumbica, um convite para mergulhar na nossa represinha era imperdível. e lá íamos nós em fila indiana pelas matas até chegar naquelas abençoadas águas que nunca secaram e o segredo da nascente era que ela jurou jamais secar enquanto ainda houvesse um menino de Cumbica na terra e que quando o último partisse para o céu, aí sim ela se evaporaria com suas águas represadas, subindo também ao céu para nossos mergulhos celestiais eternos.

Represinha





segunda-feira, 1 de abril de 2013

COMO ERA BOM IR AO REEMBOLSÁVEL

Pois é...quase todos os dias, todos nós lá no campinho inclinado, a graminha, num jogo de futebol frenético onde todos corríamos atrás da bola, de um lado ao outro, tentando acertar aquele gol de "três passos", com uma camisa de cada lado, num montinho que sugeria ser os postes e a trave ilusória era a nossa altura de um pulo, ou seja, se a bola passasse acima deste pulo era "fora", e todos aceitavam.


Normalmente as partidas eram de 5 gols...o time que marcasse primeiro os cinco gols ganhava o jogo e depois montava-se outro time com os meninos que estavam aguardando de fora.

E os meninos de Cumbica estavam todos lá, eu (Edson), o Milton, o Oscar Varella, o Ricardo, o Luiz Sávio, Cláudio, Lucélio, João Alves, Raimundo Cassulino, Décio Cassulino, Pedro Cassulino, Dídimo Serra,   os irmãos Rocio, Adelmo, Pinóia, Celso Ávila, Leoni, Adolfinho e Castilho.

Num "par-ou-impar" íamos escolhendo o time, um de cada vez e ficava o time da camisa contra os sem camisa.
O drama era quando a bola num chute sempre mal dado ia pra cima do varal das casas de baixo, com os lençóis imaculadamente lavados e devidamente "carimbados" com a bola.
O apito final das partidas era sempre o chamado das mães para o almoço, ou jantar, ou estudar:

<< Edinhoooooo.....Miltinhoooooo>>

<< Dìiiii- diiiiii- mooooooo >>

<< Pedrinhoooo,  Décinhooooo, Mundinhoooo>>>

E assim os chamados iam se sucedendo, numa sinfonia de uma grande ópera que ecoava até pelas montanhas da Serra da Mantiqueira.

São ecos que duram mais de 40 anos, que não param milagrosamente de nos chamarem, por nossas cuidadosas mães.

Lá está o campinho, a Serra da Mantiqueira, as mesmas casas hoje branquinhas e outrora coloridas,


 ... as mesmas avenidas e ladeiras.


Os mesmo arbustos e abacateiros e hoje árvores majestosas. O bosque milagrosamente ainda imaculado, cujas entranhas somente são conhecidas pelos meninos e meninas de Cumbica, a represinha, um cantinho do céu  bem escondido, ainda esperando pelos meninos pularem com algazarra em suas águas, cuja nascente jurou que somente secaria quando o último menino de Cumbica estivesse no céu e aí então ela se evaporaria e subiria em nossa direção, porque ela também foi feita com nossas lágrimas de alegria.


A quadra de volei de tantas festas juninas, de tantos jogos de volei e tanta paixão.


Os Clubes, onde desabrochavam as emoções de meninos e meninas que jamais se esquecem


...e no cinema da BASP,


... onde Rita Lee explicava:

No escurinho do cinema
Chupando drops de anis
Longe de qualquer problema
Perto de um final feliz...
Se a Deborah Kerr
Que o Gregory Peck
Não vou bancar o santinho
Não!
Minha garota é Mae West
Eu sou o Sheik Valentino..
Mas de repente o filme pifou
E a turma toda logo vaiou
Acenderam as luzes
Cruzes!
Que Flagra!
Que Flagra!
Que Flagra!
Uauauauauá!
Larará! Larará...

E, ainda hoje chego acordar de madrugada, num sonho feliz, escutando minha mãe chamar:

<< Edinho, levanta...vamos com o papai ao Reembolsável >>

Portão cinza do Reembolsável

E eu vou.