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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O DISCO VOADOR

Na  Vila dos Sargentos, o nosso vizinho do lado esquerdo era o Sargento Serra, com a especialidade de Infantaria de Guarda (IG), sua esposa, Dona Odila, pessoa muito alegre e amiga. Seus filhos, nossos amigos, eram a Virgilina, a mais velha e o Dídimo, mais novo.

O seu Serra gostava muito de contar histórias da caserna, de seu dia-a-dia de trabalho e um dia contou que recebera novos recrutas e após um dia cansativo de treinamento, todos em forma, ele perguntou bem alto:
""Quem é bom de caneta, forme uma fila à frente""
Pensando em diminuir a carga de treinamento muitos se apresentaram.
""Muito bem...então, durante esta semana, vocês peguem estas vassouras para a varreção das ruas da Base e não quero um palito de fósforo no chão"" ENTENDERAM???""
""SIM SENHOR"" foi a resposta de todos.
""Os que não se apresentaram, durante a semana vão lavar e limpar todos os banheiros, portanto se preparem com baldes e panos e "AI" de eu encontrar um vaso sanitário sujo...ENTENDERAM??""
""sim senhor"
""NÃO ESCUTEI"" (Sgto Serra)
'''SIM SENHOR"" (recrutas).

Minha mãe e Dona Odila falavam para o Seu Serra que tinham pena dos recrutas e ele e meu pai davam muitas risadas.

Um dia, eu e o Dídimo estávamos conversando na frente de casa e começamos a falar sobre disco voador, ele dizendo que não acreditava e eu dizendo que acreditava, inclusive poderíamos ver um naquele dia voando por Cumbica e a minha mãe só escutando nossas conversas na janela da frente de casa e ria.


O Dídimo duvidou do que eu disse de ver o disco voador e eu disse pra ele ficar olhando pro céu que já iria ver.
Entrei correndo dentro de casa e fui pegar na gaveta de nossa rádio vitrola um disco pesado de vinil, de 78 rotações, da cantora Carmem Miranda cantando "Tico Tico no Fubá" e nem deu tempo de minha mãe me segurar, corri para o lado do Dídimo e joguei com toda as minhas forças o disco para cima, em direção às casas da Av 3, girando como um "disco voador" e gritava: ""olha lá Dídimo o disco voador!!!""

Pra que!!!... o disco voando contra o vento começou a subir...subir...cada vez mais...e lá no alto, chegou a ficar parado, girando e de repente, começou a descer em nossa direção, aumentando a velocidade, cada vez mais e minha mãe gritou da janela: " saiam, corram... cuidado com o disco!!!...e fechou a janela pois parecia que o disco viria em direção dela.

O Dídimo correu pra casa dele e eu corri para a cabine de telefone que ficava ao lado e fiquei olhando...

O disco em grande velocidade, passou por cima da cabine e se espatifou em milhares de pedaços em cima do telhado de minha casa.

Minha mãe abriu a janela e gritou:  ""Edson...entra já"".
Logo vi que eu estava encrencado, pois minha mãe quando não estava brava me chamava de ""Edinho".

Entrei e ela logo me perguntou: " E se o disco cai na cabeça de alguém? Como é que ia ficar??""
Eu respondi: " A pessoa ia cantar Tico tico no fubá pela vida inteira.""


Minha mãe segurando a risada disse: ""Você é quem vai ver quem vai cantar Tico Tico no Fubá quando teu pai chegar...vá já de castigo na sala de jantar até ele chegar.""

Foi dureza...ele ainda ia demorar mais de uma hora...
Peguei minha mala escolar e minha mãe mandou guardá-la pois estudo não era castigo e sim diversão.

Fiquei sentado e o Dique em baixo da mesa também no castigo.

O tempo demorava pra passar e eu imaginava a surra que ia levar de meu pai .
Vi uma mosca parar em cima da mesa e passar as patas dianteira na cabeça e nas asas e pensei: " puxa, mosca também toma banho!" e logo ela voou para fora da sala pela janela. Tentei usar o truque: "mãe...posso tomar banho?"... ela respodeu: "Só depois do Tico Tico no Fubá!"...pensei: "estou frito".

O Dique nem se mexia, devia saber que eu estava em apuros.


Coloquei as cadeiras da mesa uma atrás da outra e sentei na primeira imaginando que era motorista de ônibus. Minha mãe escutou o barulho e logo mandou colocar as cadeiras no lugar.

Percebi que minha situação era realmente difícil.

Mais algum tempo, escuto meu pai chegar com a DKW entrando na garagem e o Dique saiu em disparada todo alegre para recebê-lo e eu ali esperando minha sentença de morte.

Meu pai passou pela janela e me viu sentado e passou direto, pois sabia que sentado ali era castigo.

Escutei o falar dele com minha mãe, mas não entendia as palavras e de repente escutei eles gargalhando e em seguida...silêncio.

Levantei e fiquei em pé, quase chorando...nisso a porta abre e meu pai entra.
"Edson, viu o que você aprontou?" ... eu fiz sinal de sim com a cabeça.
"Você viu também a resposta que deu pra tua mãe?" (isto ele tentando segurar a risada)
Eu chorando, pedi desculpas e disse que nunca mais ia fazer isto.

Meu pai disse: " Vá pedir desculpas a tua mãe e pode sair do castigo "

Corri pra minha mãe, pedi desculpas e abracei-a e meu irmão e irmã olhando assustados.

Nisto, meu pai disse: " Edson, você me deu uma ideia. Vamos fazer uma pipa que eu fazia em Porto Alegre, aliás, uma SUPER PIPA,que se chama BARRACA. Aí sim vocês vão ver como ela voa alto"".

Numa gritaria de alegria, ficamos esperando o dia do meu pai fazer esta pipa!!!.

...entre nós... eu nunca acreditei em disco voador mesmo!


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