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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

UM SÁBADO EM CUMBICA

O que eu mais gostava aos Sábados era acordar bem cedo e junto com meu cachorro, o Dique, sair pelas ruas da Vila dos Sargentos, ainda com neblina, com alguns raios de sol aparecendo e ver nas matas as teias de aranhas carregadas de orvalho, com as gotículas refletindo o brilho do sol, ficando parecendo jóias com pedrinhas de brilhantes. Os formatos destas teias eram os mais variados e deslumbrantes.





O cheiro da manhã em Cumbica era todo especial, o forte perfume das Damas da Noite que de longe já se percebia, da terra úmida, das plantas, dos ciprestes.

O Dique fuçando todos os cantos dos matos, demarcando seu território urinando acabava ficando molhado pelo intenso orvalho da manhã e uma vez, latindo em direção a uma moita, deu um pulo forte para trás com os pelos arrepiados e estático viu pular à sua frente um enorme sapo-boi que também ficou estático.

Por mais que o Dique latisse, o sapo não se manifestava e isto acabou fazendo com que o Dique perdesse o interesse no sapo e saímos andando e alguns passos à frente, quando olhei para trás, o sapo já havia sumido no mato.

Sapo-boi

Na Vila, sempre às 6 horas da manhã, aparecia a van Chevrolet da Base que fazia a entrega dos pães e leites previamente encomendados.

Garrafa de Leite

Quem fazia a entrega era o Taifeiro José Maria, o mesmo que fazia a entrega da merenda escolar na escola dentro da Base. Eu sempre ganhava um pão doce quando a van passava por mim e ia comendo repartindo com o Dique.


O tempo ia passando, o sol subindo mais no horizonte e a neblina desaparecendo e o ar ia sendo preenchido com o aroma de café que estavam sendo preparados e logo minha mãe me chamava para o café.
Lógico que o Dique disparava na frente para sua refeição matinal e eu disparava atrás dele sem nunca alcançá-lo.

Após o café, ainda com um pedaço de pão com manteiga na mão, ia ao meu canto de brincadeiras atrás de minha casa, onde havia um barranco com cerca de dois metros de altura.

Minha casa com o barranco ao fundo

Neste barranco eu fazia a minha "Estrada de Santos" com pontes de madeira, áreas de descanso, ladeiras íngremes, curvas fechadas e ficava perfeita para meus carrinhos de plástico que vinham de brindes dentro do vidro de achocolatado Toddy : algumas Rural Willis e Kombi VW. A estrada era tão bem feita que meu pai muitas vezes vinha brincar comigo e dizia "Edson, você vai ser engenheiro".
Kombi de brinquedo

Chegando perto da hora do almoço, meu pai montava uma churrasqueira de tijolos no quintal, colocava carvão e uma grelha em cima e preparava um churrasco gaúcho "fogo de chão" com alcatra e linguiça toscana, sempre acompanhado de uma "caipirinha" bem gelada e o cheiro se espalhava por todo o lado atraindo alguns amigos e o Dique que não saia de perto.

À tarde, após o suculento churrasco e descanso, vinha a hora de lavar a DKW Vemaguet, que ficava brilhando.

Lá pelas 16 horas começava a revoada dos cupins e os pássaros ficavam alvoroçados fazendo manobras frenéticas atrás deles, principalmente as andorinhas.

Andorinhas em revoadas de cupins

Entre a Primavera e Verão, as andorinhas que chegavam de suas viagens continentais, montavam seus ninhos, procriavam e faziam suas manobras em busca de insetos voadores e era um espetáculo a parte.

Neste mesmo período, havia a revoada dos cupins para alegria das andorinhas, sabiás, pardais, tico-ticos, canários da terra, bem-te-vis, azulão, coleirinhas, curruíras, etc.

Revoada de cupins

O mais interessante era quando após muito sol o tempo começava a fechar para as famosas tempestades de Verão e as andorinhas, numa quantidade interminável, pousavam nos fios elétricos, deixando pouco espaço entre elas e ficavam aguardando a chuvarada.

Andorinhas esperando a tempestade
 
Observávamos as chuvas se formando na Serra da Mantiqueira e aquele imenso véu branco da chuva  que vinha em nossa direção e os raios riscavam o céu com muita intensidade seguido de trovoadas muito forte. Neste momento as andorinhas, todas ao mesmo tempo, alçavam voo dos fios elétricos em direção à segurança de seus ninhos e  uma forte rajada de vento levantava poeira, mato, papel, assolando todas casas e a tempestade desabava por toda a Vila.



Após a tempestade, que passava rapidamente, chegava o momento esperado de se atirar nas enxurradas fazendo todo tipo de tripolias e guerra de barro com os amigos.



O Sábado ia caminhando para a noite e quando a Lua cheia despontava no horizonte, nas noites quentes,  centenas de vaga-lumes começavam sua revoada num festival de luz que se confundia com as estrelas e, não podia deixar de ser, pegar vaga-lumes era uma diversão imperdível.

Revoada de vaga-lumes

Chegava a hora do banho, lanchar e ir para o cinema da Base num encontro com todos os amigos e voltar a pé contando as peripécias do dia até altas horas e marcar para nos encontrarmos na Capelinha da Base para a Missa de Domingo.

Antiga Capela da BASP

Um comentário:

  1. Edson!
    Agora entendi. A sua bela história me fez entender uma coisa muito importante. Agora posso imaginar o que acontece com os cupins, em revoadas e, que insistem em invadir a minha casa. Não existem os predadores por perto dessa revoada e perigo imenso para os livros e papéis.
    O que era mais que natural passou a ser uma cortina de spray e repelente! Sinais das mudanças do tempo. As mudanças perigosas, claro!
    abraços e
    parabéns

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